ENQUANTO OS PAINÉIS SÃO RESTAURADOS
Repare-se nas semelhanças existentes nos olhos, nos narizes, nas bocas, nas orelhas e, nas rugas visíveis na testa, entre os olhos e à volta da boca. As barbas são escassas e esbranquiçadas, assim como os cabelos. Até têm um barrete de cor castanha!
Com a devida cortesia (Bernard Gallagher). (in Os Painéis - Últimas Páginas)
A mesma posição inclinada da cabeça, o mesmo olhar e
sobrancelhas, os mesmos lábios, a mesma madeixa de cabelo do lado direito dos
rostos. Até a cobertura da cabeça é vermelha!
No nosso novo estudo "Os Painéis - Últimas Páginas". Com a devida cortesia (Bernard Gallagher).
Seleccionamos, entre outras, mais estas imagens
comparativas.
Porque é que estas evidências nunca foram sinalizadas num fresco bem conhecido situado no Alentejo à beira do Guadiana? (in Os Painéis - Últimas Páginas)
IV
O Inventário de 1754 aos bens do palácio de Marvila
Cremos que este inventário é mais um inédito que
introduzimos na temática dos Painéis. Os 14 painéis relativos a S. Vicente que
constam neste rol de bens, iriam ser validados, 67 anos mais tarde, no
inventário de 1821 divulgado por Nuno Saldanha e Pedro Flor em 2010.
Verifica-se que as suas dimensões sofreram reduções neste
período de sete décadas. Nenhum deles é compatível com qualquer um dos seis
Painéis, quer pelas suas medidas, quer pela cor das molduras...
Confirma-se que eram os quadros que constituíam o Retábulo de S. Vicente (sem os Painéis), e que foram transferidos da Sé de Lisboa para Marvila em 1742, por ordem do Cardeal Patriarca D. Tomás de Almeida. (in Os Painéis - Últimas Páginas)
V
“…em acto de veneração a S. Vicente, patrono e inspirador da
expansão militar quatrocentista no Magrebe...”
Esta frase é sucessivamente repetida quando “oficialmente”
se pretende explicar o significado dos Painéis. Contudo, não se encontra nas
descrições destas conquistas, relatadas pelas Crónicas, qualquer referência a
este santo.
Quando se conquistou Ceuta (1415) e Alcácer-Ceguer (1458) o
grito de guerra que se ouviu foi “por Santiago, por S. Jorge” - Santiago também
conhecido pelo “mata mouros”. Nas Tapeçarias de Pastrana, comemorativas das
conquistas de Arzila e Tânger (1471), vêem-se inúmeras referências a S. Jorge,
cujo símbolo, uma cruz vermelha sobre fundo branco, se encontra ilustrado nas
mais diversas bandeiras e pendões…
Também nas Ordenações Afonsinas o único símbolo associado à
guerra que é referido, é o de S. Jorge!!!
Muito estranha a ausência de S. Vicente o “patrono e
inspirador da expansão militar quatrocentista no Magrebe...”!!!
VI
No 1º post desta série comparámos os rostos do
"peregrino" do painel da Relíquia com o de S. José (c. 1438, Rogier
van der Weyden, Museu Gulbenkian, Lisboa).
Este último integrava um quadro de maiores dimensões que,
por motivos desconhecidos, foi dividido. É possível "reconstruir" a
figura de S. José recorrendo a um outro retalho: pormenor de "A Leitura de
Madalena" (National Gallery, Londres).
Para além da semelhança dos rostos, verificam-se espaços
vazios junto a ambos: um caixão e um nicho. Haverá um significado simbólico
associado estes detalhes?
De igual modo, na pintura de Rogier van der Weyden, nota-se
uma pequena figura com um barrete/turbante vermelho, pormenor interessante, que
é recorrente nos quadros de Jan van Eyck (detalhe extraído de "Madonna do
Chanceler Rolin", c.1435, Museu do Louvre). Cremos que não terá sido por
coincidência...
Com a devida cortesia (Bernard Gallagher).
VII
Dois frades bastantes semelhantes, sendo o segundo oriundo
da uma região da Ibéria onde encontramos indícios que nos ligam ao ducado da
Borgonha:
- Tosão de Ouro - a ordem que Filipe o Bom, fundou no dia do
seu casamento com D. Isabel, filha de D. João I
- Sto. André - apóstolo que pregou nessa zona, padroeiro da
Borgonha, do seu exército, e da Ordem do Tosão de Ouro
- Tábua - à falta de um sino, estes monges chamavam os fiéis
para a missa batendo numa tábua com um formato semelhante àquela a que frade
dos Painéis se encosta...
VIII
No seguimento dos "posts" II e III desta sequência
de publicações (ver supra), acrescenta-se mais um para evidenciar as
influências que os Painéis exerceram na execução do Fresco do Bom e do Mau Juiz
do Tribunal de Monsaraz...
São demasiadas semelhanças, que não podem ser aceites como
meras coincidências.
Assim se vai contribuindo, documentalmente, para o mistério
que continua a existir à volta dos Painéis.