6 de janeiro de 2023

Os Painéis: Onde...? Como...?

 

OS PAINÉIS: ONDE…? COMO…?

     É nossa convicção de que os Painéis foram, desde sempre, uma obra autónoma não devendo, por isso, serem confundidos com o Retábulo de S. Vicente. A circunstância de estas obras terem partilhado o mesmo espaço durante cerca de 40 anos (c. 1532-c.1570) na capela-mor da Sé de Lisboa, levou a que ambas se confundissem entre si. No entanto, a documentação inédita que inserimos, na última década, nesta “questão dos Painéis”, associada a uma reinterpretação daquela que anteriormente existia, permite-nos pôr em causa a chamada “tese oficial”.

     Deste modo, colocam-se as questões sobre o local para onde foram elaborados e o modo como ficaram expostos?

     Defendemos que a capela real de S. Miguel, situada junto ao Paço da Alcáçova (Lisboa) onde então residiam os reis portugueses, reunia um conjunto de atributos adequados para a colocação/exposição dos Painéis:

     - Estava equiparada a uma igreja catedral com o privilégio, atribuído pelo Papa, para poder rezar as Horas Canónicas e celebrar solenemente os Ofícios Divinos.

     - Tinha os meios necessários para uma boa execução da música que acompanhava estas cerimónias (músicos, menestréis, coro de jovens…).

     - Foi o local escolhido por D. Afonso V para a recepção aos embaixadores e príncipes estrangeiros.

     - Tinha as dimensões e as proporções adequadas para a colocação dos Painéis.

     - Dispunha de uma janela e de uma orientação solar, que permitem justificar a aparente “incorreção” da iluminação do painel dos Pescadores.

     Para além destes itens e de acordo com nossa tese, de que os Painéis foram executados em memória do infante D. Pedro, podemos ainda acrescentar que:

     - O orago da capela era o arcanjo S. Miguel, santo da devoção deste Regente.

     - Foi nesta capela que este Infante, ainda jovem, foi milagrosamente curado de uma grave enfermidade que o afligia.

     Existe um desenho do tempo de D. Afonso V, que ilustra esquematicamente o interior desta capela, onde se vê a distribuição espacial das diversas entidades que estavam presentes nas ocasiões em que o rei recebia as embaixadas estrangeiras.

     Sobre este desenho colocámos os seis Painéis em três paredes, de modo a garantir, simultaneamente, a perspectiva convergente dos ladrilhos existentes em cada painel e, também, e de modo a justificar a iluminação contrária existente em dois painéis colocados lado a lado (Pescadores vs. Frades).

(in “Os Painéis: Prova Final” cap. 3 e 4)