OS PAINÉIS: ONDE…? COMO…?
É nossa convicção de que os Painéis foram,
desde sempre, uma obra autónoma não devendo, por isso, serem confundidos com o
Retábulo de S. Vicente. A circunstância de estas obras terem partilhado o mesmo
espaço durante cerca de 40 anos (c. 1532-c.1570) na capela-mor da Sé de Lisboa,
levou a que ambas se confundissem entre si. No entanto, a documentação inédita
que inserimos, na última década, nesta “questão dos Painéis”, associada a uma
reinterpretação daquela que anteriormente existia, permite-nos pôr em causa a
chamada “tese oficial”.
Deste modo, colocam-se as questões sobre o
local para onde foram elaborados e o modo como ficaram expostos?
Defendemos que a capela real de S. Miguel,
situada junto ao Paço da Alcáçova (Lisboa) onde então residiam os reis
portugueses, reunia um conjunto de atributos adequados para a
colocação/exposição dos Painéis:
- Estava equiparada a uma igreja catedral com
o privilégio, atribuído pelo Papa, para poder rezar as Horas Canónicas e
celebrar solenemente os Ofícios Divinos.
- Tinha os meios necessários para uma boa
execução da música que acompanhava estas cerimónias (músicos, menestréis, coro
de jovens…).
- Foi o local escolhido por D. Afonso V para
a recepção aos embaixadores e príncipes estrangeiros.
- Tinha as dimensões e as proporções adequadas
para a colocação dos Painéis.
- Dispunha de uma janela e de uma
orientação solar, que permitem justificar a aparente “incorreção” da iluminação
do painel dos Pescadores.
Para além destes itens e de acordo com nossa
tese, de que os Painéis foram executados em memória do infante D. Pedro,
podemos ainda acrescentar que:
- O orago da capela era o arcanjo S. Miguel,
santo da devoção deste Regente.
- Foi nesta capela que este Infante, ainda
jovem, foi milagrosamente curado de uma grave enfermidade que o afligia.
Existe um desenho do tempo de D. Afonso V,
que ilustra esquematicamente o interior desta capela, onde se vê a distribuição
espacial das diversas entidades que estavam presentes nas ocasiões em que o rei
recebia as embaixadas estrangeiras.
Sobre este desenho colocámos os seis
Painéis em três paredes, de modo a garantir, simultaneamente, a perspectiva convergente
dos ladrilhos existentes em cada painel e, também, e de modo a justificar a
iluminação contrária existente em dois painéis colocados lado a lado (Pescadores
vs. Frades).
(in “Os Painéis: Prova Final”
cap. 3 e 4)