15 de dezembro de 2020

DGPC / MatrizNet / Painéis


Podemos ler no “site” da DGPC http://www.matriznet.dgpc.pt/ :

“O MatrizNet é o catálogo coletivo on-line dos Museus da administração central do Estado Português, tutelados pela Direção-Geral do Património Cultural, pelas Direções Regionais de Cultura do Norte, Centro e Alentejo, assim como pela Parques de Sintra – Monte da Lua, permitindo atualmente o acesso a informação selecionada sobre mais de 100.000 bens culturais móveis”

Deste modo, acreditamos que a informação, que se encontra publicada neste “site”, seja fidedigna e esteja devidamente actualizada.

No entanto, constatamos que nas páginas relativas aos seis “Painéis de S. Vicente de Fora”, e nos pontos referentes à sua “Origem/Historial”, podemos ler que “O políptico pertenceu no século XVIII à Mitra Patriarcal e foi descoberto em 1882 no Paço de S. Vicente de Fora”.

Ora a primeira parte desta frase já não é compatível com os novos documentos divulgados na última década e a re-análise que desenvolvemos sobre os testemunhos anteriores.

Os inventários efectuados aos bens do palácio da Mitra Patriarcal (Marvila) em 1754 e 1821 são suficientemente elucidativos, dado que as dimensões de doze dos catorze painéis ali descritos, com cenas da vida e dos milagres de S. Vicente, já eram inferiores aos nossos seis Painéis.

Os restantes dois, com medidas bastante superiores, também não são aceitáveis devido ao pormenor, descritos nos dois inventários, de terem molduras cor de nogueira ao contrário dos Painéis que, quando foram descobertos, tinham emolduramento dourado.

(ver “Os Painéis, o Retábulo de S. Vicente e os Documentos” e “Os Painéis – Últimas Páginas”

26 de novembro de 2020

 

Disponibilizamos, gratuitamente, o 6º estudo
 que realizámos sobre os Painéis de S. Vicente de Fora (2020):

                           

Carregar neste "link" :

Analisa-se o Inventário de 1754 efectuado aos painéis do Retábulo de S. Vicente; apontam-se fortes indícios de que os Painéis sofreram influências da Flandres / Borgonha, visíveis no “peregrino” e no frade de barbas; estabelece-se uma ligação entre os Painéis e o conhecido fresco do Bom e Mau Juiz (Monsaraz); inserem-se os Painéis no contexto das medidas saídas do Concilio de Trento;...


2 de novembro de 2020

Coincidências ou talvez não?

 

Um antepassado de Jean Jouffroy? 

(c. 1425, Robert Campin, museu Thyssen-Bornemisza, Madrid)



O frade de barbas representará, também, Sto. André?

Stº André (séc. XVII/XVII, Autor anónimo, Igreja de Nossa Senhora da Caridade, Reguengos de Monsaraz - posição invertida para melhor comparação)




15 de outubro de 2020

 ENQUANTO OS PAINÉIS SÃO RESTAURADOS

I

Repare-se nas semelhanças existentes nos olhos, nos narizes, nas bocas, nas orelhas e, nas rugas visíveis na testa, entre os olhos e à volta da boca. As barbas são escassas e esbranquiçadas, assim como os cabelos. Até têm um barrete de cor castanha!
Com a devida cortesia (Bernard Gallagher). (in Os Painéis - Últimas Páginas)



II

O rosto de um dos santos dos Painéis comparado com o de uma figura de um bem conhecido fresco do século XV:

A mesma posição inclinada da cabeça, o mesmo olhar e sobrancelhas, os mesmos lábios, a mesma madeixa de cabelo do lado direito dos rostos. Até a cobertura da cabeça é vermelha!

Uma dica cedida por um outro estudioso, à qual acrescentámos outras coincidências.
No nosso novo estudo "Os Painéis - Últimas Páginas". 
Com a devida cortesia (Bernard Gallagher).



III

No seguimento da publicação anterior prova-se que o pintor do "Fresco do Bom e do Mau Juiz" (c.1498) existente em Monsaraz, se inspirou nos Painéis.

Seleccionamos, entre outras, mais estas imagens comparativas.

Porque é que estas evidências nunca foram sinalizadas num fresco bem conhecido situado no Alentejo à beira do Guadiana? (in Os Painéis - Últimas Páginas)



IV

O Inventário de 1754 aos bens do palácio de Marvila

Cremos que este inventário é mais um inédito que introduzimos na temática dos Painéis. Os 14 painéis relativos a S. Vicente que constam neste rol de bens, iriam ser validados, 67 anos mais tarde, no inventário de 1821 divulgado por Nuno Saldanha e Pedro Flor em 2010.

Verifica-se que as suas dimensões sofreram reduções neste período de sete décadas. Nenhum deles é compatível com qualquer um dos seis Painéis, quer pelas suas medidas, quer pela cor das molduras...

Confirma-se que eram os quadros que constituíam o Retábulo de S. Vicente (sem os Painéis), e que foram transferidos da Sé de Lisboa para Marvila em 1742, por ordem do Cardeal Patriarca D. Tomás de Almeida. (in Os Painéis - Últimas Páginas)


V

“…em acto de veneração a S. Vicente, patrono e inspirador da expansão militar quatrocentista no Magrebe...”

Esta frase é sucessivamente repetida quando “oficialmente” se pretende explicar o significado dos Painéis. Contudo, não se encontra nas descrições destas conquistas, relatadas pelas Crónicas, qualquer referência a este santo.

Quando se conquistou Ceuta (1415) e Alcácer-Ceguer (1458) o grito de guerra que se ouviu foi “por Santiago, por S. Jorge” - Santiago também conhecido pelo “mata mouros”. Nas Tapeçarias de Pastrana, comemorativas das conquistas de Arzila e Tânger (1471), vêem-se inúmeras referências a S. Jorge, cujo símbolo, uma cruz vermelha sobre fundo branco, se encontra ilustrado nas mais diversas bandeiras e pendões…

Também nas Ordenações Afonsinas o único símbolo associado à guerra que é referido, é o de S. Jorge!!!

Muito estranha a ausência de S. Vicente o “patrono e inspirador da expansão militar quatrocentista no Magrebe...”!!! (in Os Painéis - Últimas Páginas)


VI

No 1º post desta série comparámos os rostos do "peregrino" do painel da Relíquia com o de S. José (c. 1438, Rogier van der Weyden, Museu Gulbenkian, Lisboa).

Este último integrava um quadro de maiores dimensões que, por motivos desconhecidos, foi dividido. É possível "reconstruir" a figura de S. José recorrendo a um outro retalho: pormenor de "A Leitura de Madalena" (National Gallery, Londres).

Para além da semelhança dos rostos, verificam-se espaços vazios junto a ambos: um caixão e um nicho. Haverá um significado simbólico associado estes detalhes?

De igual modo, na pintura de Rogier van der Weyden, nota-se uma pequena figura com um barrete/turbante vermelho, pormenor interessante, que é recorrente nos quadros de Jan van Eyck (detalhe extraído de "Madonna do Chanceler Rolin", c.1435, Museu do Louvre). Cremos que não terá sido por coincidência...

Com a devida cortesia (Bernard Gallagher).



VII

Dois frades bastantes semelhantes, sendo o segundo oriundo da uma região da Ibéria onde encontramos indícios que nos ligam ao ducado da Borgonha:

- Tosão de Ouro - a ordem que Filipe o Bom, fundou no dia do seu casamento com D. Isabel, filha de D. João I

- Sto. André - apóstolo que pregou nessa zona, padroeiro da Borgonha, do seu exército, e da Ordem do Tosão de Ouro

- Tábua - à falta de um sino, estes monges chamavam os fiéis para a missa batendo numa tábua com um formato semelhante àquela a que frade dos Painéis se encosta... (in Os Painéis - Últimas Páginas)



VIII

No seguimento dos "posts" II e III desta sequência de publicações (ver supra), acrescenta-se mais um para evidenciar as influências que os Painéis exerceram na execução do Fresco do Bom e do Mau Juiz do Tribunal de Monsaraz...

São demasiadas semelhanças, que não podem ser aceites como meras coincidências.

Assim se vai contribuindo, documentalmente, para o mistério que continua a existir à volta dos Painéis. (in Os Painéis - Últimas Páginas). Com a devida cortesia (Bernard Gallagher).





21 de julho de 2020


Analisa-se o Inventário de 1754 efectuado ao painéis do Retábulo de S. Vicente; apontam-se fortes indícios de que os Painéis sofreram influências da Flandres / Borgonha, visíveis no “peregrino” e no frade de barbas; estabelece-se uma ligação entre os Painéis e um conhecido fresco…e muito mais.

Disponível em:




22 de novembro de 2019

Disponibilizamos, gratuitamente, mais um estudo
 que efectuámos sobre os Painéis de S. Vicente de Fora:




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No presente estudo, tanto a identificação do Santo como o significado dos Painéis, são colocados em segundo plano. 

O enfoque principal é dirigido aos documentos existentes (alguns dos quais acrescentámos a esta temática) que têm servido de suporte à interpretação "oficial" que é dada aos chamados "Painéis de S. Vicente" e ao Retábulo de S. Vicente. 

A análise crítica que efectuámos permitiu provar que os testemunhos relativos ao Retábulo não podem ser utilizados para explicar o motivo da execução dos Painéis.

Os Painéis e o Retábulo foram/são duas realidades bem distintas.




27 de outubro de 2019

Uma síntese da história dos Painéis e do Retábulo de S. Vicente,
segundo algumas das Provas Documentais

  1. “Visitações”: de acordo com o teor de oito destes testemunhos as obras mais intensas no Retábulo de S. Vicente, situado junto ao altar deste santo colocado na capela-mor de Lisboa, tiveram início em 1462 e prolongaram-se até 1473. Tinham como objectivo dignificar o local onde se encontravam as relíquias deste santo. Os fundos necessários para estes trabalhos foram recolhidos junto dos fiéis sob a forma de esmolas, que em troco recebiam indulgências equivalentes a quarenta dias de perdão. D. Afonso V foi um destes contribuintes. A gestão das obras e dos fundos ficaram a cargo da Igreja.
N.B.: Nestes textos nunca é destacado, ou pelo menos referido, o papel de S. Vicente “…como patrono e inspirador da expansão militar quatrocentista no Magrebe…”, apesar do começo das obras já ter ocorrido depois da conquista de Alcácer-Ceguer (1458), de as mesmas estarem em curso no tempo das tentativas falhadas em tomar Tânger (1462 e 1463/1464) e durante as vitórias conseguidas em 1471 (Arzila e Tânger). Por este facto os painéis, que integravam o Retábulo, só podiam se relacionar com a vida, martírios e milagres do santo.

  1. “Os pareceres de Francisco Pereira Pestana”: ao explanar os seus pontos de vista, dirigidos a D. João III, sobre a estratégia a seguir nas praças norte-africanas (c. 1532), convida, a dado passo, o soberano a ir visitar a Sé e admirar e “…ver aqules famosos Reis Armados, tão fermosos e gentis-homens…” como forma de o incentivar a passar à acção militar.
N.B.: Estes dois pareceres são as primeiras referências que se podem aceitar como sendo relativas aos Painéis. O modo como o autor o faz permite inferir que esses quadros eram não só belos mas também uma novidade naquele local. Fazem referências não só aos painéis de maior dimensão, mas também aos dos Frades e dos Cavaleiros

  1. “O Documento do Rio”: Este manuscrito anónimo elaborado por volta de 1600, vem confirmar a presença dos Painéis de maior dimensão junto ao Retábulo do altar de S. Vicente “…em baixo…estavam dois painéis em que estava pintado S. Vicente em figura de moço de 17 anos em cada retábulo e painel…e a figura de S. Vicente estava virada uma para outra de maneira que mostrava a si cada parte do rosto…e outras muitas figuras de homens…e tinham nas cabeças uma caraminholas muito altas de veludo…há muito que não vi isto, disseram-me há poucos dias que não estavam já aí estes painéis, dirão os cónegos onde estão.”
N.B.: Este documento testemunha que os Painéis (do Infante e do Arcebispo) estiveram junto ao Retábulo mas que, naquela data, já tinham sido retirados para local incerto. Assim no altar de S. Vicente ficariam apenas os painéis do Retábulo executado entre 1462-73.

  1. “A descrição de D. Rodrigo da Cunha”: O texto deste arcebispo de Lisboa (1642) fornece-nos a descrição mais detalhada que se conhece do Retábulo de S. Vicente “…neste espaço se levanta o altar do santo, de que logo nasce o retábulo com a sua imagem de vulto no meio, com a palma de mártir na mão direita, e a nau em que nos foi trazido, na esquerda. Seguem-se pelos mais painéis de retábulo de pintura singular, vários milagres do santo, com os passos principais de sua vida, e martírio.”
N.B.: Este trecho vem confirmar o motivo da execução do Retábulo em 1462-73: prestar devoção a S. Vicente através de um conjunto painéis que ilustrassem a sua vida, martírios e milagres. Como é óbvio, não é feita qualquer a referência aos Painéis que como vimos, no “post” anterior, já tinham sido retirados.

  1. “O apeamento do Retábulo”: Num códice recolhido por Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas, e publicado em 1791, é afirmado que, em Novembro de 1690, todo o conjunto do velho Retábulo do altar de S. Vicente foi retirado para ser substituído por um outro.
N.B.: O novo retábulo, que se pautou pela grandiosidade da sua arquitectura, ficou concluído no início do século XVIII mas acabou por se desmoronar completamente com o terramoto de 1755.

  1. “Os documentos de 1763-68”: Um conjunto de textos datados do período 1763-68, contêm uma série de pormenores muito importantes relativos aos painéis do Retábulo retirados da Sé em 1690 (ver ponto anterior). Referem que ficaram guardados numa dispensa da Sé até que em 1742 o Cardeal Tomás de Almeida os mandou recuperar e enviar para o palácio da Mitra (Marvila). Revelam que aqui se encontravam mais de 12 painéis com imagens do mártir S. Vicente, pintados pelo mesmo artista. Um destes mereceu particular destaque, não só por ser um dos maiores, mas também por ser o único onde se viam religiosos e um cofre que continha as relíquias do santo.
N.B.: O envio destes quadros para a Mitra, permitiu que se salvassem dos efeitos do terramoto de 1755.

  1. “O Inventário da Mitra de 1821”: No rol de bens incluídos neste inventário constatamos que os painéis do Retábulo (ver ponto anterior) ainda estavam depositados no palácio de Marvila. O inventário descreve 14 painéis com imagens de S. Vicente e fornece-nos as respectivas medidas, que não compatíveis com as dos Painéis. Confirma a existência do painel destacado no ponto anterior (religiosos e um cofre com as relíquias), tanto pelo seu descritivo como pelas suas dimensões.
N.B.: Concluímos assim que em 1821 ainda existiam os painéis que tinham integrado o Retábulo de S. Vicente. É assim possível seguir o seu percurso ao longo de 450 anos: 1462-73 (execução); 1690 (apeados e guardados numa dispensa da Sé); 1742 (recuperados e remetidos para o palácio da Mitra); 1763-68 (na Mitra são referenciados mais de 12 painéis); 1821 (são inventariados 14 painéis); 1916 (é incorporado no MNAA o único painel sobrevivente e completo, que pertenceu ao Retábulo, segundo o estudo que Adriano de Gusmão faria em 1957 – S. Vicente atado à Coluna).

  1. “As análises dendrocronológicas de 2001”: Os resultados publicados relativos às análises efectuados às 22 pranchas que constituem as tábuas dos Painéis às 6 da tábua e meia dos Martírios, (os painéis que restam do Retábulo de S. Vicente), permitem concluir que na montagem destas superfícies foram utilizados lotes de madeiras diferentes, o que não aconteceria se fossem preparadas para a mesma obra pictórica. Nos Painéis a datação dos anéis de crescimento mais recentes encontram-se entre os anos 1383-1431, enquanto nos Martírios esse intervalo foi de 1435-1454.
N.B.: A título de curiosidade estes resultados, apurados para as 13 pranchas dos quatro painéis dos Santos (atribuíveis à mesma “escola” de pintura), já abarcam um período coincidente com os outros dois conjuntos (1415-1454).

  1. “O estudo laboratorial de 2013”: O relatório das análises microscópicas efectuadas aos materiais constituintes das preparações base aplicadas sobre as 12 tábuas atribuídas à “oficina” de Nuno Gonçalves (6 Painéis, 2 Martirios e 4 Santos) apresentam resultados contundentes como se lê nesta citação: “verificou-se que existem diferenças de composição na camada preparatória entre o Políptico de S. Vicente – os Painéis – e as pinturas dos outros dois grupos que sugerem que no primeiro terá sido usado um lote de “gesso” diferente”, o que prova que os Painéis foram executados num tempo diferente dos outros dois grupos.
      N.B.: Porquê o silêncio existente sobre os resultados apurados por estes exames laboratoriais, supervisionados pela Universidade de Lisboa?

  1.  “Os Painéis do MNAA”:
Terminamos esta sequência de notas com um extracto que Dagoberto Markl, distinto historiador de arte e defensor da tese vicentina, escreveu sobre as outras teorias interpretativas dos Painéis: “Todavia, o “pecado” maior tem sido o de em nome de uma suposta originalidade ignorar-se, por completo, o acervo documental já existente e que exige, da parte de quem se debruça sobre o tema o seu pleno conhecimento”, in “Nuno Gonçalves – Novos Documentos”, IPM, 1994, p.27.
Palavras aceitáveis e até defensáveis, atendendo aos documentos que se conheciam na altura. Contudo, e passados 35 anos, será agora o momento da “teoria oficial” não ignorar, por sua vez, o conjunto de novos testemunhos que entretanto surgiram, assim como as ilações que deles se extraem.
Referimos em especial, entre outros, a: sete “Visitações” (1462-1517), um outro parecer de Pereira Pestana (c.1532), o Inventário da Mitra de 1821, as análises dendrocronológicas de 2001 e o estudo laboratorial de 2013.

N.B.: O objectivo do nosso último estudo visou basicamente separar documentalmente os dois conjuntos de pinturas (Painéis e Retábulo de S. Vicente), isto é, o significado dos Painéis não pode ser suportado por provas que apenas dizem respeito ao Retábulo de S. Vicente